A ARTE DO VITRAL
OS CONRADO
![]() |
Vista frontal dos dois painéis de vitrais da FAAP |
Dia de sol em São Paulo... único requisito para que, certamente, aconteça um dos mais interessantes e belos espetáculos da cidade, desde 1960. Com início entre quatro e quatro e meia da tarde, e finalizando junto com o pôr-do-sol, quem já viu não se esquece... são os Vitrais da FAAP acendendo-se numa profusão de luzes e cores... invadindo e encantando o hall de entrada da Fundação Armando Álvares Penteado, no bairro de Higienópolis.
São mais de 350 metros quadrados de vitrais deixando a luz do sol fluir através de centenas de milhares de pedaços de vidro colorido.
Divididos em dois painéis, os vitrais em suas infindáveis matizes, tons e nuances de todas as cores, representam juntos, uma floresta tropical e são de autoria da artista plástica Cláudia Andujar.
O painel da escadaria é composto de 216 quadrados, de um metro cada, e para a sua execução foi utilizada a técnica tradicional, que consiste em cortar pedaços de vidro colorido, e depois juntá-los com filetes de chumbo.
Fotos dos vitrais da escadaria em tarde ensolarada acima e abaixo sem a inscidência de luz do sol.![]() |
Já no painel da clarabóia no teto, são 121 quadrados do mesmo tamanho, mas a técnica utilizada foi outra, já que a artista responsável não queria que a junção fosse feita com chumbo. Optou-se então pela colocação dos pedaços de vidro colorido, entre duas camadas de vidro translúcido.
Os vitrais da FAAP foram cuidadosamente executados pela Casa Conrado, sendo que 58 deles, são projetos assinados por artistas brasileiros renomados, como Lasar Segall, Portinari, Pennacchi e Tarsila do Amaral, entre outros.
A Casa Conrado foi fundada em 1889, pelo alemão Conrado Sorgenicht (1835-1901), que instituiu a produção de vitrais com a qualidade dos importados da Europa. O fundador da empresa não desenhava, importava os vidros coloridos e os colava como aprendeu em sua terra natal, seguindo os exemplos encontrados nas igrejas góticas da Alemanha.
Já seu filho, Conrado Sorgenicht Filho (1869-1935), foi quem realmente exibiu talento artístico e impulsionou a vidraria. Dessa maneira, conseguiu colocar a empresa como a única com capacidade de fornecer e executar o melhor vitral do país.
O engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo, reconheceu a qualidade e excelência dos vitrais Conrado, e estabeleceu uma parceria com a empresa, para que os vitrais pudessem adornar os principais projetos públicos da cidade.
![]() |
Faculdade de Direito Largo São Francisco |
![]() |
Palácio das Indústrias |
![]() |
Mercado Municipal |
![]() |
Adalberto Conrado -(vovô Tito) no Hospital Beneficência Portuguesa |
Regina Lara Silveira Mello, é neta de Conrado Adalberto, que por sua vez era neto do fundador da Casa Conrado, e é também vitralista. Atualmente, ela prepara o Guia dos Vitrais de São Paulo, que visa catalogar todos os 600 trabalhos da família Conrado, inclusive o mais antigo deles no Brasil, uma rosácea da Igreja Luterana, na Avenida Rio Branco.
Regina explica que vitral é uma arte cara, demorada e está em extinção. Fala ainda com pesar do desgosto do avô, ao saber da substituição dos vitrais da Igreja Nossa Senhora do Brasil, por réplicas em acrílico. Regina Lara Silveira Mello é professora da Universidade Mackenzie e ensina sobre a história dos vitrais.
É bom saber que a empresa Conrado ainda existe, mesmo sem o reconhecimento e a demanda de trabalho do passado, que está na quarta geração no Brasil, e executa serviços de restauração, como nos vitrais do Teatro Municipal de São Paulo.
![]() |
Alguns dos muitos painéis do Teatro Municipal |
Os vitrais da FAAP, assim como os do Mercado Municipal, da Catedral da Sé e tantos outros, compõem o acervo de mais de cinquenta conjuntos de vitrais instalados em São Paulo, além de igrejas e mansões. Ou seja... é muita coisa, e com certeza, já nos deparamos com algum deles em algum momento de nossas vidas, até porque, quase todos os locais mencionados são públicos e têm visitação gratuíta. Então, da próxima vez que olhar para um vitral em São Paulo, lembre-se que é uma arte extremamente delicada, minuciosa, milenar, quase extinta... que pode ter sido feito pela Casa Conrado e fazer parte da história da arte do
Brasil.
![]() |
Vista parcial dos painéis da Catedral da Sé |
Um dos painéis |
Fontes:
![]() |
Apenas um pequeno detalhe de um dos painéis. |
Acessoria de Imprensa da FAAP
Regina Lara Silveira Mello